Há 107 anos cerca de 90 mil mulheres saíam às ruas reivindicando melhores condições de trabalho e vida. O ato aconteceu na Rússia, em 1917, e foi essencial para que em 1975 a ONU instituísse oficialmente o Dia Internacional da Mulher. Desde então, muitas foram as (nossas) lutas – e também conquistas.
No Brasil, lutamos pelo direito à cidadania e, assim, em 1932 tivemos direito ao voto. Trinta anos depois, por meio da Lei nº 4.212, foi permitido que mulheres casadas não precisassem da autorização do marido para trabalhar. Em 1977, outra lei, desta vez a nº 6.515, tornou o divórcio uma opção legal e, em 1979, tivemos o direito à prática esportiva. Sim, mulheres não podiam praticar determinados esportes por serem “incompatíveis com as condições de sua natureza”.
Já entre os anos 2000 e 2020, tivemos ao menos três conquistas que são divisoras de águas em nossa história. A primeira é a Lei Maria da Penha (nº11.340/2002), a segunda é a Lei do Feminicídio (nº 13.104) e a terceira é a lei que considera importunação sexual feminina crime (nº 13.718).
Como presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), também comemoro conquistas quando olho para a história das mulheres advogadas em nosso Estado. No ano passado, por exemplo, de forma história conquistamos a paridade na Lista Sêxtupla para o Quinto Constitucional do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT).
Além disso, mulheres são maioria do eleitorado brasileiro, são maioria das inscritas na OAB-MT, são maioria das chefes de família brasileira. Avançamos muito, é inegável. Mas precisamos de mais. Ainda é grande o desafio de normalizar a participação feminina em mesas de decisão, em espaços de poder.
Ainda sofremos violência política. Ainda temos nossa capacidade intelectual diminuída. Ainda precisamos nos provar o tempo todo, ainda que tenhamos todos os requisitos necessários para estarmos onde estamos. Ainda precisamos de oportunidades reais de crescimento pessoal e profissional.
Apesar dos avanços significativos, continuamos enfrentando obstáculos sistêmicos: a desigualdade salarial e a sub-representação em cargos de liderança, por exemplo. Não só neste mês, mas principalmente agora, convido homens e mulheres a refletirem seus papéis sociais e o que pode ser, de fato, feito para mudarmos este cenário e realmente normalizarmos as mulheres nos espaços de poder.
É preciso lembrar que cada uma de nós tem o poder de ser protagonista de nossa própria história. É preciso honrar o legado das mulheres que nos precederam, inspirando-nos em sua coragem e determinação, e continuar lutando por um futuro mais justo e igualitário. Sejamos nós as heroínas de nossas histórias, mas também lembremos de dar a mão para que juntas possamos crescer. Que a maioria não seja apenas em números, mas também em oportunidades.
Gisela Cardoso é presidente da OAB-MT