A cientista social de Cuiabá, Giulia Medeiros, finalizou pesquisa de Mestrado, inspirada no projeto social da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), o “Liberdade Consentida Oficina de Artes”. Com a pesquisa, ela busca a desconstrução da imagem pejorativa atribuída a pessoas em privação de liberdade.
O projeto, de caráter profissionalizante, foi concebido e implantado pelo advogado Silva Freire, quando foi presidente da OAB-MT no biênio 1985/87.
A iniciativa, na época, foi considerada pioneira por implantar uma nova filosofia penal, partindo do aproveitamento do potencial artístico dos recuperandos no campo da música, da pintura e da modelagem, entre outras artes.
Através da produtora MO Arte e Mídia, Giulia participou, em 2015, da reedição do projeto de Silva Freira. “A intenção era dar aos presos instrumentais do grafite e do audiovisual como forma de amplificar a sua voz e fonte de renda deles”, explica.
A pesquisadora concluiu que o cinema – feito pelos próprios detentos - é “arma” potente para desmistificar os estereótipos do senso comum, oportunizando a eles outra chance de vida, tanto ainda durante o cumprimento da pena, quanto já mais tarde, em liberdade. “Que tenham a oportunidade de acertar e serem reinseridos na sociedade, sem estigmas”, diz Giulia.
Na pesquisa, ela analisou e comparou dois documentários, sendo um deles – “De Dentro pra Fora” – dirigido por detentos do antigo Presídio do Carumbé, atual Centro de Ressocialização de Cuiabá, durante o projeto “Liberdade Consentida”. O outro filme - “Prisioneiro da Grade de Ferro” – também foi produzido por detentos da extinta Casa de Detenção de São Paulo, conhecida como Carandiru.
“Participei dessa iniciativa e, como já tinha intenção de ser cineasta, quando terminei minha faculdade de Ciências Sociais, na UFMT, busquei mestrado com foco no audiovisual e o projeto de Silva Freire me inspirou muito”, relata Giulia. Ela memora que, no final do projeto, a OAB-MT sediou uma sessão de cinema, para exibir o documentário, com a presença dos autores e seus familiares. As artes produzidas nas oficinas ficaram expostas na galeria da instituição.
Giulia agora pretende publicar a pesquisa de Mestrado, que fez pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (ECOO), da UFMT. Quer somar esforços na ressignificação do imaginário simbólico das pessoas que estão ou passaram pelo sistema prisional. Oferecer o conhecimento para orientar políticas públicas de reinserção social por meio de ferrramentas da arte e audiovisual.
“A maior parte dos veículos de mídia generaliza esses corpos e traz uma narrativa que não aborda o contexto de vida dessas pessoas. Expõem simplesmente que são infratoras e, portanto, não são dignas de direitos, cabendo, portanto, a elas um lugar de inferiorização, negação de história e marginalização. Porém, pelas mãos desses sujeitos, eles mesmos podem trazer suas versões de vida. Isso é também uma forma de libertação”.
Atualmente, Giulia faz faculdade na Escola Internacional em Cinema e Televisão de Cuba (EICTV). Segundo ela, Cuba tem boas escolas de cinema e é referência na América Latina.
Silva Freire
Silva Freire é uma das personalidades mato-grossenses que orgulham não somente a Advocacia, como a sociedade em geral. Era advogado, jornalista, professor, poeta e boêmio, destaca o filho dele e também advogado, Murillo Barros da Silva Freire.
“O proatividade de Silva Freire sempre pautou a sua atuação profissional, especialmente na defesa da dignidade da pessoa humana. Foi nesse sentido que lançou esse projeto inovador, o qual deveria ter sido encampado como política pública na área da justiça e da segurança pública pelo Estado de Mato Grosso”, sugere.
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