Formar-se advogado é sempre motivo de grande comemoração. Mas para alguns a vitória é resultado de um processo difícil. Angello Vinnicius Maranholi Rodrigues, de 25 anos, de Cuiabá, teve que enfrentar diversos desafios até ter em mãos a tão sonhada carteira profissional. Ele recebeu o documento oficial, que autoriza o exercício da Advocacia, na sala da presidência da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), nesta quinta-feira (8).
Filho de policiais, relata que escolheu fazer Direito justamente por ter crescido nesse meio. “Sabia que a profissão dos meus pais é perigosa, mas mesmo assim me interessava pelo dia a dia dos dois. No Direito, foi onde me enxerguei dentro de tudo isso. Desde pequeno tinha sonho de ser delegado e ainda quero ser, mas, na faculdade, comecei a gostar da magistratura e me apaixonei pela Advocacia, quando fiz estágio núcleo de práticas jurídicas. Vi que é uma profissão linda.
Os casos me agregaram valor profissional, porque agradeço pela experiência, e pessoal, porque a gente acaba entendendo o lado das pessoas. Este foi um primeiro passo no meu caminho rumo à Advocacia”, relata.
Angello trabalha desde os 14 anos de idade, com carteira assinada. Primeiramente, foi menor aprendiz, aprendendo a ter responsabilidade e a batalhar pelo que se quer, sem depender tanto dos pais. Comprou bicicleta, celular, notebook e percebeu, conforme conta, que, trabalhando poderia conquistar o que queria.
Já na faculdade, trabalhava em oficina mecânica de manhã, estagiava à tarde e frequentava aula à noite. Também fazia entregas. Depois comprou carro, começou a trabalhar como motorista de aplicativo. Comprou também seu apartamento e estava confiante, até que sofreu um acidente grave. Teve trauma na cabeça, na coluna e no ombro. A recuperação foi muito difícil. Pensou muitas vezes em largar a faculdade, mas sempre persistia, com apoio de familiares e amigos.
Na pandemia, entrou em crise financeira, porque, com o isolamento social, os aplicativos já não compensavam. Endividou. Foi quando conseguiu um emprego de segurança no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA). Também foi no CREA que conseguiu outra oportunidade de emprego, no setor administrativo. “Pedi uma chance, porque já tinha me formado em Direito, e me deram”.
Depois de muito estudo, passou no Exame da Ordem e quer galgar na área.
O diretor tesoureiro da OAB-MT, Helmut Daltro, entregou a carteira profissional a Angello e aconselhou o novo colega de profissão.
“Seja feliz, acima de tudo, sucesso profissional é muito diferente de sucesso financeiro. Muitas vezes o sucesso financeiro vem primeiro, em um momento em que não estamos ainda prontos o suficiente para entender isso. O sucesso sempre vem. Melhor que seja de forma gradativa, degrau por degrau. A diferença de você subir de uma vez só e degrau por degrau é que, se por ventura, recair, consegue se reerguer. Se pular etapas, o tombo é maior”.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos, Flávio Ferreira, convidou Angello para somar junto na defesa das pessoas em vulnerabilidade social. “Aceito de imediato esse desafio e não digo que tenho uma história de superação, mas de alguém que não desiste nunca”.
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