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"Vítima do preconceito, comecei advogando para mim mesma", diz primeira mulher trans a receber certidão da OAB-MT

08/10/2020 11:04 | CONQUISTA
Foto da Notícia: 'Vítima do preconceito, comecei advogando para mim mesma', diz primeira mulher trans a receber certidão da OAB-MT

Foto: Divulgação

imgA Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT) compartilha os anseios das populações em situação de vulnerabilidade social que buscam a isonomia da justiça. 
 
E ao entregar nesta terça-feira (6) a certidão para que a universitária Daniella Veyga Garcia Nonato possa atuar como estagiária em Mato Grosso, celebra junto à sociedade, a conquista de mais este espaço. 
 
Daniella é a primeira mulher trans declarada a receber o documento.  A expectativa agora é direcionada para o dia em que será entregue a sua carteira definitiva, para que ela atue como advogada e faça história mais uma vez. 
 
“Estou aqui para quebrar paradigmas”, se orgulha. A cuiabana moradora do bairro Coxipó, que estudou em escola pública e é ‘próunista’, também foi a primeira mulher trans a integrar a diretoria da União Nacional dos Estudantes (Une) e já foi conselheira da Presidência da República. Ela também é uma das organizadoras da Parada LGBTQI em Mato Grosso e há tempos colabora com os membros da Comissão da Diversidade Sexual da OAB-MT.
 
À ocasião da sessão virtual de entrega das certidões, ela também foi a oradora na cerimônia. No discurso, lembrou que as pessoas trans sempre estiveram à margem da sociedade e que ela é prova de que elas podem tudo: “podemos ser médicas, administradoras e advogadas”. 
 
A sessão entrou para história da OAB-MT. “Mesmo sendo uma inscrição temporária de estagiária, é a primeira de uma mulher trans. E logo entro nos quadros definitivamente”, anuncia. 
 
“Fico feliz de ter chegado até aqui, pois muitas desistem já na escola. Minha mãe sempre dizia, ‘estude que de você tiram tudo, menos o conhecimento’”.  Daniella acredita que é na escola que começa a fluir também o Direito. “Acho que advoguei pela primeira vez aos 16, para mim mesma”, se diverte. 
 
Por algumas vezes, foi chamada à diretoria. “Pediam que eu não usasse maquiagem, ou que não usasse o banheiro feminino. A gota d´água foi quando me pediram para não usar um salto que tinha ganhado de uma professora”, relembra. 
 
“Perguntei a ela em que isso atrapalhava a minha cognição, minha aprendizagem e das outras pessoas. Percebi que estavam tentando cercear o despertar do meu gênero, me proibindo de ser eu mesma. Aí eu vi que as coisas não estavam corretas”. 
 
imgA estagiária que atua em processos de direito do consumidor em escritório na capital, destaca que sua conquista é muito significativa para ela, mas muito mais para a população trans. “É de todas as pessoas trans que perderam suas vidas nas ruas, seja pela marginalidade, seja pela violência do conservadorismo”. 
 
Ela destaca que seu objetivo é somar à defesa dos direitos da comunidade LGBTQI e também, das mulheres, segundo Daniella, com as quais as pessoas trans compartilham o sofrimento decorrente do machismo. 
 
 “É do sangue que derramaram. Pela falta de oportunidade. Estou fazendo justiça por elas. Não foi só a Daniella que recebeu esse documento, mas todas as pessoas trans de Mato Grosso assinaram juntas”. 
 
O presidente da Comissão da Diversidade Sexual da OAB-MT, Nelson Freitas Neto, também considera a conquista de Daniella, um marco para a advocacia. “É a expressão da coexistência pacífica e justa entre os diferentes, respeitando a identidade de gênero, a dignidade da pessoa humana e principalmente o direito fundamental e básico do cidadão de ser quem é”. 
 
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Leonardo Campos diz que a advocacia acompanha com entusiasmo a trajetória de Daniella.
 
“A OAB é a casa e a voz de todas os segmentos da sociedade e a caixa de ressonância de seus pleitos. Também é nossa missão garantir a igualdade da justiça, o direito à cidadania, a dignidade humana e a inclusão social. Celebramos todos, a OAB e sociedade. E à Daniella, inspiração para a comunidade LGBTQI, desejamos muito sucesso na trajetória que começa com o estágio. Não vemos a hora de entregar-lhe sua identidade de advogada”. 
 

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