Foto: Acervo familiar
Jean Dias é um jovem advogado que há poucos meses realizou o sonho de ter um escritório para chamar de seu. O advogado de 26 anos, que mora em São José dos Quatro Marcos (a 343 km de Cuiabá) é inspiração para os alunos do curso de Direito da Faculdade Católica da Paz, instituição na qual se formou e hoje, é professor.
O início, relembra, “foi desafiador”. Para custear as aulas, trabalhava como frentista em um posto de gasolina. Entre um papo e outro, a advogados de um escritório que abasteciam no local, contou que era estudante de Direito.
Logo surgiu um convite para trabalhar lá. E foi assim que de fevereiro de 2014 a maio de 2018, atuou como estagiário. E logo depois - até janeiro de 2020, como advogado. “Tive muita sorte por ser acolhido desta forma. Sou eternamente grato à advogada Regina Sabioni” (foto).
O que ele credita a sorte, muitos, creditarão a foco e força de vontade. Aos 26 anos já tem duas pós-graduações – em Processo Penal e Pós-Penal e Filosofia - e atualmente cursa mestrado em Sociologia na Universidade Federal de Mato Grosso. Foi aprovado em primeiro lugar.
“Eu até pensei em cursar Engenharia Civil, mas o Direito tinha tudo a ver comigo. Meu foco era estudar muito e concluir a faculdade, mas não imaginava que chegaria até o mestrado. É possível que eu tente um doutorado depois”, se empolga.
É pelo exemplo de obstinação que Jean Dias é homenageado pelo “Inspira Advocacia”, idealizado pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT). O projeto realizado durante o Mês do Advogado, busca valorizar e dar visibilidade a personagens que representam milhares de histórias vitoriosas da advocacia mato-grossense.
Além de todos os predicados atribuídos ao jovem advogado que atua na área do Direito Público, há que se destacar a resignação. De família de baixa renda, cresceu em uma chácara em uma região periférica de São José dos Quatro Marcos e hoje, é motivo de orgulho para a mãe, Anália Dias Xavier.
Testemunha do assassinato do pai
Ele também foi vítima de uma tragédia familiar. Aos 10 anos presenciou o assassinato do pai. “Isso me gerou um trauma muito grande. Foi difícil superar o medo do som de motocicleta. Dois homens chegaram até à porta de casa, um deles fez cinco disparos contra a face do meu pai. Eu e um irmão de 14 anos fomos testemunhas”.
Uma tragédia dessas podia tê-lo desvirtuado dos bons princípios e comprometido seu futuro. Mas ele reverteu a situação com a ajuda de professores da escola onde estudava. Foram eles que também buscaram ajuda psicológica para o menino.
“Os livros viraram meu refúgio, me trouxeram conforto. Eles perceberam isso. E logo, ganhei meu primeiro livro: ‘Harry Potter e a Pedra Filosofal’. Tinha muito a ver comigo”, relembra. E a partir daí, devorou muitos.
Caminho da legalidade
“Nunca soube o que meu pai fez para esses homens. O inquérito foi encerrado sem conclusão”, conta. Aos seus alunos costuma dizer: “ver alguém nascer e ver alguém morrer muda sua vida”.
Mas ele fez o que pode para amenizar os danos e intuitivamente buscou o caminho da legalidade, se distanciando dia a dia de um futuro desvirtuado.
“O exemplo de Harry Potter deu sentido à minha vida. Ele era órfão, pobre, desajustado. Mas podia muito. E foi assim que eu tive comigo que eu poderia ser o que eu quisesse. O livro me trouxe esperança”.
E ler, apenas, não bastou, o advogado já tem um livro publicado. Ele também é voluntário em projetos sociais de sua cidade. Já até teve sua contribuição reconhecida pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso, tendo inclusive, sido congratulado com Moção de Aplauso.
“Todas essas vivências me moldaram para que eu chegasse até aqui. E o Direito? Mudou a minha vida. Não só por ter me empoderado economicamente, mas por ter me tornado um ser humano mais consciente”.
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