A classe artística mato-grossense irá produzir uma carta aberta à sociedade para manifestar a preocupação e protestar contra os episódios de censura que vêm ocorrendo no Estado e no país, além de propor medidas para impedir que a liberdade de expressão volte a ser reprimida no Brasil.
A estratégia foi debatida durante a tarde de quarta-feira (27), na sede da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), depois que uma obra da exposição alusiva aos 300 anos de Capital, "Amo Cuiabá", foi retirada de um shopping local.
“A OAB-MT entende que toda e qualquer censura corresponde a um processo de corrupção. Então, da mesma forma que nós lutamos contra a corrupção financeira, também lutamos contra a corrução de valores. É importantíssimo pra nós que todos tenham ferramenta de expressão, possibilidade de poder se expressar, e a arte censurada está invadindo os mais comezinhos princípios de liberdade de uma nação. Precisamos reagir contra isso”, pontuou o vice-presidente da OAB-MT, Flávio Ferreira.
Participaram do encontro representantes da classe artística mato-grossense como as cantoras Vera Baggetti e Zuleica Arruda, a artista plástica Ruth Albernaz, a produtora cultura Magda Domingos da Silva – esposa do artista plástico Gervane de Paula, cuja obra foi censurada no shopping -, e a também produtora cultura Silvana Cordova.
“A gente está vivendo um retrocesso. É fundamental que a gente repense em que sociedade estamos vivendo e foi uma exposição que é comemorativa aos 300 anos de Cuiabá. Nós, artistas participantes dessa amostra, estamos profundamente afetados e repensando qual a cidade que a gente quer, qual a Cuiabá dos 300 anos que queremos. Queremos uma cidade onde haja formação em arte, onde tenha museus que funcionem, onde a cultura cuiabana seja considerada, valorizada, e nós, artistas cuiabanos, somos representantes dessa cultua”, comentou Ruth Albernaz, que também mantinha telas na exposição onde a obra foi censurada.
A colega de Gervane de Paula destacou que o tema abordado por ele para a exposição foram os conflitos sociais que existem em Cuiabá, dentre eles o uso do crack. A obra que foi censurada retratava a forma como o usuário da droga pode vir a sucumbir a condutas irracionais. “A obra retrata justamente o perigo do uso de drogas, mas foi interpretada de forma deturpada, como se houvesse apologia ao uso da droga. Fomos chamados de imundos”, demonstrou sua indignação Ruth Albernaz.
O advogado Flávio Ferreira lembrou que a história da humanidade é marcada por episódios de discursos moralistas que deram início a ditaduras em vários países. “Tudo começa com esses discursos moralistas e isso termina numa ditadura. A história tem provado isso, que não é novo, começou no século XIX e, ao longo da história, os países vêm ganhando corpo com isso. A extrema direita, que é o caso do movimento mundial que nós vemos na Europa e nos Estados Unidos recentemente, são discursos conservadores que terminam por cercear as liberdades”.
A cantora Vera Baggetti enfatizou a importância de o tema estar sendo debatido na sede da OAB-MT. “Gostei de surgir o debate a partir da OAB, que lida com os direitos do ser humano. Acho super viável esse encontro e espero que surja um documento interessante, que seja bem pensada a forma como lidar com isso, porque na Constituição está garantida a liberdade de expressão”, comentou.
Por fim, ficou deliberado que os participantes da reunião elaborarão o documento a ser repassado a demais integrantes do cenário artístico mato-grossense, bem como a entidades representantes da sociedade civil, para ser assinado. No dia 10 de outubro, quando ocorrerá o ato cívico “Reage MT”, para demonstrar a manifestação social diante da continuada corrupção revelada na delação premiada do ex-governador Silval Barbosa, os integrantes do movimento dos artistas juntar-se-ão ao manifesto para tornar pública a carta aberta de repúdio à censura. “No dia 10 de outubro, vamos levar isso para as ruas para que as pessoas tenham conhecimento. A OAB quer participar desse movimento de resistência a toda e qualquer censura”, finalizou o vice-presidente da Ordem.
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