O encerramento da XX Conferência Estadual da Advocacia e da XX Semana Jurídica, promovidas pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), terminou com muita informação sim, mas muita cultura popular também, na noite de sexta-feira (18). A palestra-cantada do juiz do trabalho Rodolfo Pamplona Filho levantou a plateia que permaneceu até o final do evento acompanhando a trajetória da família brasileira entre os séculos XIX e XXI, conforme o ordenamento jurídico e ao embalo de canções da Música Popular Brasileira e muita poesia.
A mulher e Chico Buarque de Holanda – talvez o maior compositor brasileiro para tratar sobre a alma feminina – delinearam a palestra do magistrado. "Eu tenho que começar pelo centro do universo, e qual é? Só há um, é a mulher. Não se pode ensinar Direito de Família na contemporaneidade sem perceber todo um sistema normativo que reprimia a mulher. Na verdade, a história da modificação da disciplina normativa das relações de família no Brasil coincidiu com onde ficou essa mulher no sistema normativo".
E, assim, começa a sequência de canções que retrataram as angústias, lutas e conquistas da mulher na sociedade brasileira. A primeira delas, "Mulheres de Atenas", foi usada para relatar a exclusão feminina do sistema de personalidade e de capacidade plena com o Código Civil de 1916, só reeditado em 2002. "O sistema que reprimia as mulheres era algo ensinado, repassado de geração. Nós vivemos num país machista, mas mais do que isso, nossa legislação é machista", acrescentou.
"O Casamento dos Pequenos Burgueses", para entender o casamento conforme o Código Civil, que legitimava as relações sexuais; "Trocando em Miúdos", para demonstrar o momento do antigo desquite; "Essa Moça Está Diferente", para definir a mulher que sabia o que não queria mais e certa do que queria, e "Mil Perdões", para retratar a infidelidade e o comportamento masculino em relação aos fatos, foram as músicas de Chico Buarque para trazer a evolução dos relacionamentos ao longo dos anos no Brasil.
Mas outras composições para demonstrar a conflituosa e intensa convivência entre homens e mulheres, subjugada ao ordenamento jurídico brasileiro, também compuseram o repertório de Pamplona Filho: "Eu não Sou Cachorro Não" (Waldick Soriano), com direito à versão em inglês de "I'm Not Dog No", de Falcão, "Pare de Tomar a Pílula", de Odair José, "Ciúmes", de Ultraje a Rigor, "Drão", de Gilberto Gil, "Dois Amores", de Fernando Mendes, também foram interpretadas por ele.
Muitas foram as poesias de sua autoria, que declarou ser a forma de expor aquilo que sentia mas não conseguia verbalizar, recitadas para demonstrar seu contato com início, meio e fim de relacionamentos acompanhados ao longo da trajetória profissional. "Remédio Amargo" fala de divórcio, situação que nunca viveu, já que está casado com a mesma esposa, sua segunda namorada, há 22 anos.
"Compreender o fim de um relacionamento no sistema normativo brasileiro historicamente é um desafio de coragem da mulher. Não havia divórcio no Brasil, que somente em 1977 passou a existir. O que havia era o desquite, e ser desquitado era ser mal visto. E mesmo com toda a carga negativa da sociedade, mulheres tomavam a iniciativa", associou o magistrado.
Outra revelação feita por Pamplona Filho foi que decidiu mudar o rumo de sua vida aos 33 anos para fazer o que sempre gostou, manter um contato estreito com a arte. Somente despertou para isso depois de ter sofrido um infarto com essa idade, em função de inúmeros compromissos do mundo do Direito, e de ter vivenciado, um pouco depois, um acidente grave com sua filha. "Comecei a pensar: você está fazendo tanta coisa na vida, mas está fazendo aquilo que realmente gostaria de estar fazendo? Foi aí que resolvi mudar minha postura, porque o tempo passa e, aí, já era".
No momento final do espetáculo-palestra, Pamplona Filho despediu-se com a mensagem de que as relações de família mudaram a forma, "a casaca", como classificou, mas o fundamental, a essência continua a mesma, o amor. "Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho", cantou como Tom Jobim em "Wave".
Sua passagem por Mato Grosso, além de render uma empolgante aula durante a Conferência da Advocacia, tornou-se mais uma de suas poesias, depois de conhecer a riqueza e as belezas das redondezas. Confira aqui o poema “A Trilha da Vida”.
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