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Fake news: a fábrica de fazer vítimas

Data: 31/01/2020 13:50

Autor: Pérsio Oliveira Landim

    O clássico livro intitulado “O que é jornalismo”, de Clóvis Rossi, responde a pergunta de capa afirmando que independente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos – leitores.
 
    A primeira edição da obra -- referência até hoje na formação de novos jornalistas --, é de 1980. O texto atemporal de Clóvis Rossi mesmo que sempre enfatizando o campo da ética, pouco poderia imaginar a enxurrada do fenômeno das fake news que iria fazer “concorrência” ao bom jornalismo nas próximas décadas.
 
    O jornalismo profissional não mudou, é rechonchudo de apurações, de confirmações de dados e diariamente inúmeras pautas continuam a cair seja por falta de consistência, ou pela checagem mostrar o contrário do que de fato seria a notícia, assim, muitas vezes evita-se o linchamento moral.
 
    Sempre ecoou no universo acadêmico do jornalismo o delicado relacionamento entre o profissional e a fonte -- que muitas vezes tem na contribuição uma forte carga de interesses. O cuidado e profissionalismo ao manusear a matéria-prima (informação) já não ocorre no lado oposto, com quem tem o único compromisso em produzir e propagar notícias falsas.
 
    Na luta diária por mentes e corações dos leitores, ouvintes, internautas e telespectadores, os jornalistas têm a missão de apurar em tempo recorde, com Redações cada vez mais enxutas, e, ao mesmo tempo, lidam diariamente contra uma avassaladora onda de fake news.
 
    O furo bombástico continua causando grande impacto, mas inúmeras vezes ele não é mais real.
 
    Tão impactante quanto é manchetada a fake news, também é o estrago que ela causa. Vacinas deixam de ser tomadas, pessoas são julgadas, empresas que geram empregos viram vilãs; tudo com poucas palavras carregadas de mentiras servindo interesses de alguns ao ludibriar tantos outros.
 
    Frequentemente, os meios de comunicação dedicam parte de seus espaços noticiando justamente os danos provocados pelo paradoxo ao trabalho do bom jornalismo.
 
    Basta uma simples busca no Google para ver os efeitos catastróficos das fake news que surgem inúmeros casos, dentre eles, o da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, morta aos 33 anos em 5 de maio de 2014, que pode dar nome a uma lei que tenta punir quem incita crimes pela internet.
 
    Espancada até a morte por moradores de Guarujá, onde morava, Fabiane foi acusada de praticar magia negra com crianças após uma notícia falsa espalhada pelas redes sociais.
 
    O boato gerado em uma página no Facebook e um retrato falado da dona de casa rapidamente se espalharam pelas redes, juntamente com histórias falsas e relatos mentirosos de quem afirmava ter testemunhado os sequestros. O projeto que tramita no Congresso prevê aumentar em 1/3 a punição quando a incitação a crimes ocorrer pela internet ou por meio de comunicação de massa.
 
    Atualmente é difícil encontrar quem nunca recebeu uma notícia falsa, muitas vezes até para facilitar aplicação de golpe e também há aquelas em formato de “ajuda”, transvestida de serviço público avisando “onde não comer” em determinada cidade, com narrativa subjetiva e muitas vezes mentirosa, mas com efeitos reais que só atrapalham a árdua jornada do empreendedorismo.
 
    A batalha por mentes e corações, definida por Clóvis Rossi, não é  exclusividade do jornalista (que tem nome, CPF, registro, profissão), ela também é “anônima”, portanto é preciso aumentar a vigilância e ativar ainda mais as barreiras psicológicas diante de cada informação recebida principalmente via WhatsApp, sites anônimos e redes sociais. A desconfiança nunca se fez tão necessária.
 
    Informações mentirosas causam estragos verdadeiros, não importa o interesse por trás do seu surgimento. Fake news é uma grande indústria de fazer vítimas.

*Pérsio Oliveira Landim é advogado, presidente da 4ª Subseção de Diamantino da OAB-MT.

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