A cada dia somos bombardeados por notícias trágicas, sórdidas, de uma perversidade que parece não ter limites. Quando achávamos que um fato estava próximo da brutalidade do "fim do mundo", da desumanização do ser humano, eis que surgem novas histórias ainda mais chocantes.
Você já ouviu falar em Filicídio? Esse é o termo usado para mães que matam seus próprios filhos. Isso mesmo, o ato de tirar a vida de quem deve zelar por ela é cometido pela genitora, aquela a quem chamamos de mãe. Poderia ter escolhido outro tema para abordar, mas não, este tema foi eleito pelo choque que nos causa, pela falta de compreensão que um Ser Humano, dito normal, tem por um ato como este, e não, não é de nosso objetivo a recriminação e/ou o julgamento do comportamento da mulher que chega a cometer tamanha atrocidade, mas sim, para demonstrar a realidade que nos cerca.
Crianças perdem sua vida por crimes cometidos por aquelas em quem mais confiavam. As próprias mães. Assim foi mais um dos casos bárbaros que nos deparamos nesta semana e que chocou a sociedade pela brutalidade e pelas circunstâncias em que ocorreram.
O homicídio do menino Rhuan, de 9 anos, pela sua mãe, Rosana, 27 anos, na última sexta-feira (31/5), em Samambaia (DF), é de uma violência demoníaca.
A criança acabou morta pela mãe e pela companheira dela, mais antes o menino foi esquartejado, levou 12 facadas no peito e foi degolado ainda vivo.
O sofrimento do menino Rhuan comoveu o Brasil! Esta criança sofreu por longos anos, de acordo com o Laudo emitido pelo Delegado de Samambaia - DF, o garoto teve o seu pênis cortado há um ano em um procedimento cirúrgico dentro de casa para mudança de sexo, um verdadeiro ritual macabro.
A morte do menino Rhuan foi de uma crueldade demoníaca, pois ainda dormindo recebeu diversos golpes de faca, em seguida, teve o rosto desfigurado, foi decapitado e esquartejado.
Ele não teve como se defender. Qual criança teria? Como se defender daquela que deveria amar, zelar e proteger. Certamente ele se perguntava por que esse castigo nunca termina? O que eu fiz de errado para merecer isso?
O que leva uma mãe a matar seu próprio filho? Onde fica o tal instinto maternal de proteção e amor?
Não existe uma resposta linear a esta questão, sendo que podem existir diferentes motivações, como desejo de vingança, retaliação, ou ainda contextos conflitantes com alienação parental, onde a criança é vista como uma forma de atingir o outro progenitor. A morte da criança surge, assim, como uma forma de privar o outro progenitor do contacto com a criança, uma forma de punição ou até mesmo de esquecer o passado.
O fato é que independente da motivação associada, o amor de mãe ou de pai nem sempre se manifesta, é o que podemos constatar diante de um crime tão bárbaro, onde perdemos a esperança no ser humano.
Elas esfaquearam o pequeno Rhuan enquanto dormia, esquartejaram e tentaram queimar. O menino viveu para sofrer, era odiado, maltratado, abusado, humilhado, torturado, obrigado a manter relações sexuais com sua irmã de criação. Não contou com nenhum motivo para sorrir. Não conhecia a palavra respeito, muito menos conheceu o significado de amor.
Ficou nas mãos de torturadoras, que de acordo com Raphael Boechat, psiquiatra, doutor em ciências da saúde, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) precisam ser estudadas, pois se forem inseridas novamente na sociedade, provavelmente podem causar problemas, levando a um quadro de psicopatia, tamanha perversidade do crime.
Que o calvário sofrido pelo menino Rhuan, assim como muitos outros crimes bárbaros e macabros que acontecem no nosso País não fiquem impunes, que possamos dar voz a nossas crianças e tê-las como prioridade absoluta.
Descanse em paz Rhuan, que seu sofrimento não seja esquecido!
*Tatiane de Barros Ramalho é advogada, presidente da Comissão de Infância e Juventude da OAB-MT; presidente da Comissão do Instituto Brasileiro de Direito de Família de Mato Grosso - IBDFAM; conselheira titular do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente – CEDCA e membro da Comissão Nacional de Infância e Juventude da OAB Nacional.