A amamentação é um ato que marca profundamente a vida de muitas mulheres. Para algumas, amamentar é mais difícil do que o parto. Para mim e muitas outras, é uma consequência maravilhosa da gestação, que vai além de nutrir, gerando uma conexão diária de olhar, contato físico e emocional entre mãe e filho.
Amamentei nossa primeira filha, Catarina, até 1 ano e 8 meses. Quando estava grávida da nossa segunda filha, Elisa, não consegui continuar amamentando. Hoje, com a graça de Deus, muito esforço e cansaço, sigo amamentando nossa caçula, que completa 1 ano e 6 meses neste “Agosto Dourado”.
Os benefícios do aleitamento materno são inúmeros: reduz o risco de obesidade, hipertensão, colesterol, diabetes, infecções respiratórias e alergias, além de aumentar a inteligência. Para a mãe, amamentar reduz os riscos de câncer de mama, ovários, endométrio, diabetes tipo II e melhora a saúde mental.
A campanha “Agosto Dourado” foi criada pelo Governo Federal com a Lei n. 13.345, de 12 de abril de 2017, para conscientizar sobre a importância da amamentação. Em Mato Grosso, a campanha foi inserida no calendário oficial pela Lei Estadual n. 12.111, de 12 de maio de 2023, e inclui campanhas publicitárias, palestras, iluminação de espaços públicos com a cor dourada e incentivo à doação de leite materno.
Incentivar a amamentação prolongada, a doação de leite e os benefícios do aleitamento materno são temas importantes, mas muitas mães trabalhadoras enfrentam dificuldades para amamentar pelo período recomendado. A legislação trabalhista e o Estatuto do Servidor Público do Estado de Mato Grosso permitem o afastamento da mãe até o 6º mês do bebê ou ausências do trabalho por até duas vezes ao dia, por meia hora, quando a licença maternidade é de quatro meses.
No entanto, após os seis meses, a mãe deve retornar à jornada de trabalho integral, sem flexibilização para manter a amamentação prolongada. Isso contradiz os objetivos do “Agosto Dourado” e as recomendações do Ministério da Saúde sobre salas de amamentação e armazenamento de leite materno, que muitas vezes não são aplicáveis na prática.
Lutamos muito para conquistar espaço no mercado de trabalho. Agora, lutamos em dobro para equilibrar a vida familiar, a criação dos filhos e a rotina de trabalho, sem flexibilização ou compreensão daqueles que deveriam apoiar o aleitamento materno.
O Governo Federal, sensível à situação, instituiu o Programa Emprega + Mulheres com a Lei Federal n. 14.457/2022, que apoia a parentalidade na primeira infância (filhos até 6 anos), priorizando vagas com flexibilização do regime de trabalho, reembolso-creche e outros pontos importantes. Isso é um avanço, mas ainda estamos longe de atingir os objetivos da campanha “Agosto Dourado”.
A maternidade é fantástica e mudou minhas opiniões e paradigmas, me transportou para um mundo além do corporativo. Muitas mulheres, como eu, adiaram a maternidade para priorizar a carreira e agora enfrentam o dilema de trabalhar sem apoio institucional para amamentar. Apesar das dificuldades, não perco a esperança de ser ouvida e mudar essa realidade para outras mães trabalhadoras.
Romélia Ribeiro Peron é advogada, servidora pública do Estado de Mato Grosso, Mãe de duas meninas e Lactante