Registros e marcos são necessários e explicativos. E essa semana temos um marco para política de Mato Grosso que deve ser exaltado, divulgado e gerar reflexões. Pela quinta vez, uma mulher ocupa cargo eletivo majoritário, na história do Estado. Serys Shlessarenko foi senadora. Iraci França, a primeira governadora. Maria Helena Póvoas, desembargadora presidente do Tribunal de Justiça do Estado, foi a segunda mulher governadora do Estado. A ex-magistrada Selma Arruda foi senadora e agora teremos Margarete Buzetti, ocupando uma cadeira no Senado. Cinco mulheres em apenas em 271 anos de fundação do Estado. Isso deveria nos deixar perplexos.
A transformação das relações sociais, econômicas e educacionais que conduzem mulheres e homens à posição de igualdade em deveres e direitos já ocorre há mais de 200 anos, consolidando e reconhecendo a capacidade de trabalho, o poder de intervenção social e a presença dessa população na base da força de trabalho que move o país. Mas, por aqui, quando falamos da ocupação do espaço público, para além do trabalho, e espaços de decisão de poder político, a desigualdade é gritante.
Cinco mulheres em cargos majoritários em todos esses anos de história de Mato Grosso! Quantificar não causa o choque do absurdo? O natural não seria a igualdade já que todos pagamos tributos? Considerando que as mulheres são pelo menos 50% da população economicamente ativa e contribuintes, temos que reconhecer que há uma massa gigante de cidadãs que trabalha e custeia a máquina pública. Mas não decide.
Por isso, esse momento é histórico e tem que ser marcante, para que não deixemos de visualizar tal abismo.
Quando se fala em exercício de poder, a presença feminina ainda é incomum, uma exceção, uma excepcionalidade.
Na política, a participação feminina é minimamente incentivada pela legislação de cotas, em razão de dar um sentido de dignidade social que nenhum Estado Democrático pode perder. Mas ainda estamos deixando a desejar. As candidaturas femininas não ultrapassam o mínimo e as eleitas são minoria, nas casas legislativas.
A política é um espelho do machismo que nos conduz, ainda nos limita e deprecia, isso em pleno XXI. Um página que ainda não viramos.
Por isso o incentivo à participação associativa, partidária, em conselhos de classe, mas, especialmente, nas eleições que se avizinham é fundamental pra mudança da realidade.
Dizem, que quando você olha o abismo, o abismo olha para você. Então, proponho um exercício a quem estiver até esse ponto do artigo: Imagine se esse fosse um texto para parabenizar um senador, que fosse o quarto homem em cargo majoritário na história de MT.
Se é impensável a ausência masculina da política, a ausência feminina deveria causar igual espanto.
Saudações às que têm coragem!
*Glaucia Anne Kelly Rodrigues do Amaral é presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-MT e Procuradora do Estado.