Dentre tantos papéis que eu desempenhei e desempenho ao longo da minha vida, ser uma mãe atípica tem sido o mais desafiador de todos eles.
A mãe atípica traz em sua essência uma obstinação por fazer o melhor que puder para seu filho. Podemos dizer que todas as mães também o fazem? Sim. Porém, as mães atípicas sabem que, da sua dedicação depende a possibilidade ou não do seu filho ter uma vida mais próxima da independência e “normalidade”. E isso é muito grande!
No caso do meu filho, André Luiz, que tem síndrome de down, eu acordo todos os dias sabendo que o desenvolvimento dele, tal qual sentar, comer, andar, falar, dentre outros, depende do estímulo precoce. Quanto mais cedo, melhor!
Literalmente é uma corrida contra o tempo, lembrando que não basta somente a estimulação, ela precisa ser assertiva e adequada para as características individuais do meu filho.
Então, essa mãe, que antes se preocupava em verificar as roupas mais bonitas, os brinquedos mais legais e poderia esperar, com a mesma certeza de que o sol vai brilhar, que seu filho típico iria andar, falar, correr, se alfabetizar, formar uma família... enfim... essa mãe, agora de um filho atípico, passa a se preocupar com tratamentos eficientes, exames complementares, direitos e ações para inserir esse filho na sociedade de maneira digna. Absolutamente tudo é mais complexo, mais intenso e, por consequência, cada pequena vitória tem um valor inexplicável.
Esse pequeno relato não consegue traduzir minimante o que passa, pensa e sente uma mãe atípica, e somente essas compreenderão de forma plena as entrelinhas desse texto.
A maternidade por si é, em regra, um divisor de águas na vida de uma mãe. E a maternidade atípica é um divisor de águas na essência dessa mãe.
* Fernanda Cardoso é membro da Comissão de Defesa dos Direitos de Pessoas com Deficiências da OAB-MT