No II Encontro Mato-grossense de Estudantes de Direito, em 2005, na Universidade de Cuiabá, o ex-governador Pedro Taques, então procurador da República e palestrante no evento, fez uma memorável distinção: "os meros professores passam, os Mestres ficam".
O professor Waldir Caldas Rodrigues - advogado criminalista, que nos deixou no último dia 18, vítima da covid-19 -, seguramente, foi um verdadeiro Mestre; e dos grandes.
E não me refiro apenas às suas aulas inesquecíveis e antológicas atuações nos tribunais do júri.
Waldir foi maestro da vida.
Sul-mato-grossense, veio para Cuiabá exercer o magistério na área da matemática. Embora apaixonado pela docência, a decepção com a precária estrutura da educação pública (muito pior, à época) o levou a percorrer outros caminhos.
Comerciante, repórter esportivo, ingressou nos umbrais da faculdade de Direito já pai de cinco filhos.
Mesmo sem condições financeiras para custear a mensalidade com tranquilidade - e, por vezes, sequer a tarifa do transporte coletivo -, não lhe faltaram os viços necessários à consagração profissional.
Dono de uma voz eloquente e de um irresistível carisma, Waldir foi uma amizade desmedida para todos que privaram de sua companhia. Tribuno nacionalmente reconhecido e professor universitário – ou melhor: Mestre –, também deixou indeléveis contribuições como membro de importantes Comissões da Seccional da OAB-MT.
Em 2018, encabeçou a chapa do recém-criado “Partido Novo” ao Senado da República, obtendo expressiva votação diante das condições materiais de sua candidatura.
Àqueles que tiveram a alegria de ser seu aluno, amigo, colega, ou familiar, certamente é uma perda irreparável, somente se encontrando algum conforto na grata reminiscência da honra e do privilégio de tê-lo como parte de suas vidas.
À advocacia mato-grossense mais um belo exemplo em sua história. Como bem disse o nosso Eminente Presidente, Dr. Leonardo Campos, perdemos “um dos maiores expoentes na defesa da liberdade e dos direitos humanos. O Tribunal do Júri fica órfão de uma das vozes mais imponentes em prol do direito de defesa”.
De minha parte, pessoalmente, fico envaidecido por ver registrado o seu nome como meu orientador de monografia, durante a graduação, como especial lembrança do cordial colega e amigo, sempre pronto para combater o bom combate.
Obrigado, eterno Mestre, eternamente, obrigado...
* Evaldo Duarte de Barros Sobrinho é advogado em Cuiabá, e ex-aluno de Waldir Caldas Rodrigues